Os primeiros elementos do contingente português que vai ajudar na formação das forças militares moçambicanas partirão na primeira quinzena de Abril, confirmou o Ministério da Defesa de Portugal. E sendo assim, os terroristas têm tempo de sobra para continuarem a matar com toda a impunidade.
O envio deste contingente de 60 militares portugueses, das forças especiais, é enquadrado pelo novo acordo-quadro de cooperação bilateral que está a ser ultimado pelos ministérios português e moçambicano, disse fonte da tutela.
Em entrevista à Lusa divulgada no passado dia 17 de Fevereiro, o ministro português da Defesa, João Gomes Cravinho, estimou em cerca de 60 militares o contingente de “forças especiais” que será destacado para Moçambique, auxiliando pela via da formação e preparação o país africano no combate ao terrorismo.
“O que vamos destacar são formadores para formar fuzileiros e comandos. São militares que têm essas valências, forças especiais”, disse na altura Gomes Cravinho, frisando que decorre o planeamento com as autoridades moçambicanas.
O ministro da Defesa de Moçambique já havia sinalizado ao governo português a intenção de visitar Portugal, mas ainda não há datas previstas, de acordo com a mesma fonte.
Sobre o novo acordo-quadro para a cooperação técnico-militar entre Portugal e Moçambique, para vigorar nos próximos três anos, Gomes Cravinho precisou que não contempla grandes alterações de conteúdo, mas representa uma “intensificação” da cooperação com este país, na sequência do actual contexto de ameaças. A cooperação técnico-militar (sobretudo em tempos de paz) entre Portugal e Moçambique existe desde 1988.
Quanto aos locais de trabalho, está previsto que os militares portugueses estarão no sul do país, perto de Maputo, e no centro, disse então o ministro da Defesa português. Nada como, para uma boa formação, estar longe dos locais onde os balas matam mesmo.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no passado dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano. A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas acções já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
Portugal não deixa os seus (des)créditos por ministros alheios
João Gomes Cravinho é o ministro português da Defesa. Trata-se de um perito de longa tradição socialista e certamente merecedor de um doutoramento “honoris causa” pelo MPLA. Por alguma razão comparou, em Novembro de 2005, em entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi (que tinha morrido três anos antes) a Hitler.
Em tempos, a Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento português quis ouvir o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação (João Gomes Cravinho) sobre a situação na Guiné-Bissau. Na altura, o caso do ex-chefe da Armada guineense, Bubo Na Tchuto, foi revelador do que Portugal (não) pensava sobre a Guiné-Bissau.
Em Janeiro de 2010, quando oficialmente Bubo Na Tchuto era procurado pela justiça e se tinha refugiado na sede da ONU em Bissau, João Gomes Cravinho disse que o caso veio “expor completamente a fragilidade das instituições” guineenses.
Basta ler (se alguém tiver paciência para isso) o que Gomes Cravinho disse uma vez, nem que seja há um par de anos, para se saber que sempre que fala da Guiné-Bissau usa as mesmas ideias, os mesmos argumentos, a mesma teoria e, é claro, a mesma passividade.
O então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal só altera o nomes dos protagonistas. Na altura foi Bubo Na Tchuto, tal como já foram, entre outros, Hélder Proença, Baciro Dabó, Tagmé Na Waié e João Bernardo Nino Vieira.
E por falar em Gomes Cravinho, recordam-se que ele afirmou no dia 4 de Dezembro de 2007 que a União Europeia devia libertar-se da “bagagem colonial” na relação com África, reconhecendo que o continente “é hoje um igual” com “progressos notáveis” nos últimos anos?
E por falar em Gomes Cravinho, recordam-se que ele comparou em Novembro de 2005, numa entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi (que tinha morrido três anos antes) a Hitler?
E por falar em Gomes Cravinho, um dia irá dizer que “Nino” Vieira foi outro Hitler africano. Isto porque o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, hoje ministro da Defesa, tem coragem suficiente para fazer destas afirmações sobre pessoas depois de eles terem morrido.
Sobre os vivos, por muito mais que eles se assemelhem a Hitler, Cravinho apenas sabe estar calado.
No dia 18 de Janeiro de 2010, João Gomes Cravinho afirmou que o Governo português acompanhava com a «atenção normal» a situação na província angolana de Cabinda, defendendo que o importante é a detenção de responsáveis de ataques criminosos.
Não estava nada mal. Até parece que, para os donos do reino lusitano, falar de Cabinda ou de Zoundwéogo é exactamente a mesma coisa. Lisboa esqueceu-se, continua a esquecer-se, que os cabindas, tal como os angolanos, não têm culpa que as autoridades portugueses (grande parte delas do Partido Socialista) tenham, em 1975, varrido a porcaria para debaixo do tapete.
Quando interrogado sobre se o Governo português considerava preocupantes as notícias de detenções de figuras alegadamente ligadas ao movimento independentista na província de Cabinda, João Gomes Cravinho – hoje, corrobore-se, ministro da Defesa -afirmou que «preocupante é quando há instabilidade e violência, como aconteceu com o ataque ao autocarro da equipa do Togo» a 8 de Janeiro de 2010.
Sim, é isso aí. Portanto, o MPLA pode prender quem muito bem quiser (e quer, continua a querer, todos aqueles que pensam de maneira diferente) que terá, como é óbvio, o apoio e a solidariedade das autoridades portuguesas. O caso mais recente foi o de Cafunfo, tendo – aliás – beneficiado da rejeição de um voto de pesar pelas dezenas de mortos proposto, no Parlamento português, pelo CDS e que foi rejeitado pelo PS, PSD, PCP e pela oportuna “fuga” do Bloco de Esquerda.
Tal como fez em relação a Jonas Savimbi depois de este ter morrido, Gomes Cravinho não tardará (provavelmente só está à espera que eles morram) a chamar Hitler, entre outros, a Raul Tati, Francisco Luemba, Belchior Lanso Tati, Jorge Casimiro Congo, Agostinho Chicaia, Martinho Nombo, Marcos Mavungo ou Raul Danda.
João Gomes Cravinho explicou na altura que, «em relação ao mais» Lisboa acompanha o que se passa «pelas vias normais», isto é, pela comunicação social e pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa.
Ou seja, Portugal está-se nas tintas. E quando Cravinho diz que Lisboa acompanha o que se passa pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa estava a esquecer-se que a embaixada lusa se limitava, como se limita hoje, a ampliar a versão oficial do regime angolano.
Como se já não bastasse a bajulação de Lisboa ao regime angolano, ainda temos de assistir à constante passagem de atestados de menoridade e estupidez aos portugueses por parte de alguém que, depois do desastroso papel como secretário de Estado, chega a ministro da Defesa.
Folha 8 com Lusa